
Café no concreto? Austrália constrói o 1° pavimento do mundo com concreto de café
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Por Márcio Freire
Quem diria que aquele restinho de café do seu filtro poderia ganhar uma função na construção civil? Pois é, pesquisadores da RMIT University, na Austrália, desenvolveram uma nova técnica adicionando borra de café no concreto.
Essa abordagem faz parte de um esforço para encontrar novas aplicações para resíduos que, muito provavelmente, acabariam em aterros sanitários. Os resultados alcançados mostram um caminho interessante para a engenharia civil.
Matéria-prima é o que não falta: estima-se que, globalmente, sejam consumidas mais de dois bilhões de xícaras de café por dia!
Mas como exatamente o café foi parar no concreto? E por que essa solução tem chamado tanta atenção?
A seguir, você vai entender como o café deixou de ser só uma bebida para se tornar um aliado da construção sustentável.
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De onde veio a ideia de colocar café no concreto?
Antes de responder isso, muita gente pode estar pensando: com a alta do preço do café, por que alguém usaria ele no concreto?
Como bom consumidor de café, eu não iria querer fazer essa troca . Acontece que não estamos falando do pó de café pronto para uso, mas sim da borra de café (o resíduo que sobra após você fazer seu cafezinho).
Com a crescente preocupação com o descarte de resíduos orgânicos, pesquisadores da RMIT University, na Austrália, buscaram formas de reaproveitar esse material que normalmente seria jogado fora.
Só na Austrália, são geradas mais de 75 mil toneladas de resíduos de café por ano, a maior parte indo parar em aterros sanitários, onde libera metano — um gás 28 vezes mais potente que o dióxido de carbono, contribuindo para o efeito estufa.
A ideia de usar café no concreto surgiu da necessidade de encontrar alternativas sustentáveis para materiais como a areia, cada vez mais escassa, e reduzir o impacto ambiental da construção civil. O projeto quer transformar um resíduo comum em um recurso útil para as cidades.
E o problema não é exclusivo da Austrália: no Brasil, maior produtor e um dos maiores consumidores de café do mundo, estima-se que sejam geradas cerca de 1,1 milhão de toneladas de resíduos de café por ano. Grande parte desse volume também acaba em aterros, sem nenhum tipo de reaproveitamento.
COMO É FEITO O CONCRETO DE CAFÉ?
O concreto de café é produzido a partir de um processo chamado pirólise, no qual a borra de café é aquecida a cerca de 350°C. Esse tratamento transforma o resíduo em biocarvão, um material leve e poroso. Em seguida, esse biochar é utilizado para substituir até 20% do agregado miúdo (areia) na mistura do concreto.
Após essa etapa, a mistura segue o processo convencional de preparo do concreto: mistura, moldagem e cura.
No fim das contas, é um processo simples: transformar um resíduo que seria descartado em um material que melhora a resistência do concreto e ajuda a reduzir o impacto ambiental.
quais são as vantagens do concreto de café?
A borra de café, após ser aquecida a 350°C, se transforma em biocarvão. Quando adicionada à mistura, ela aumenta em até 30% a resistência do concreto, em comparação ao convencional. Além disso, a técnica reduz o consumo de areia e cimento, tornando a construção mais sustentável.
O resultado foi impressionante!
O segredo está no biocarvão, o material gerado após o processo de pirólise (queima da borra de café). Ele possui uma estrutura porosa e rica em carbono, o que permite atuar como um reservatório de água em microescala dentro da mistura de concreto.
Funciona mais ou menos assim: conforme o concreto endurece, essas partículas de biocarvão vão liberando a água armazenada de forma gradual. Isso garante uma hidratação contínua das partículas de cimento.
Se você já acompanhou uma concretagem, sabe que é comum fazer a cura molhando a superfície do concreto para evitar fissuras. O biocarvão cumpre esse papel de dentro pra fora, promovendo uma cura interna.
Essa hidratação prolongada diminui o risco de fissuras por retração e resulta em um concreto mais resistente e menos permeável.
Outro benefício importante é a possibilidade de reduzir em até 10% o teor de cimento na mistura, sem perder desempenho. Isso significa menor custo e uma pegada de carbono reduzida, já que a produção de cimento é uma das maiores fontes de emissão de CO₂ na construção civil.
primeiro pavimento do mundo usando concreto de café
O primeiro projeto real com concreto de café foi construído em Gisborne, no estado de Victoria, Austrália. A iniciativa resultou em um trecho de 50 metros de pavimentação para pedestres — marcando a primeira aplicação prática do mundo com essa tecnologia.
O objetivo era simples: verificar se o desempenho do concreto de café em laboratório se repetiria nas ruas e até o momento os resultados são surpreendentes.
A escolha de uma trilha urbana foi estratégica: além de permitir o monitoramento do material em condições reais de uso, trata-se de uma aplicação de baixo impacto estrutural, ideal para validar o desempenho do concreto de café em termos de durabilidade, resistência e comportamento sob intempéries.
Até o momento, o concreto de café vem sendo aplicado em pavimentações urbanas, como calçadas, ciclovias e trilhas para pedestres. Essas aplicações ainda não envolvem elementos estruturais, como vigas e pilares.
o brasil já tentou fazer concreto com borra de café
Como na faculdade sempre fui ligado as pesquisas acadêmicas, era comum ver os colegas adicionando os mais variados tipos de resíduos na mistura do concreto, visando criar o material mais resistente do mundo.
Quando vi a notícia do concreto de café, logo imaginei: Não é possível que ninguém nunca pensou nisso aqui no Brasil, afinal de contas, como vimos, o nosso país é um dos maiores consumidores de café do mundo.
Não deu outra, pesquisando sobre o assunto, encontrei um trabalho de conclusão de curso realizado em uma universidade de Fortaleza, onde também se buscou incorporar resíduos de café no concreto. Link do artigo aqui.
No entanto, os resultados não foram tão positivos quanto os alcançados pela equipe australiana. A resistência do concreto não apresentou ganhos significativos e, em alguns casos, foi até inferior à do concreto convencional.
A principal diferença entre os estudos foi a metodologia. O projeto brasileiro não fez a queima dos resíduos de café, ou seja, não realizou a pirólise. Sendo assim, os compostos orgânicos que prejudicam a reação do cimento não foram eliminados.
Isso afetou diretamente no resultado encontrando!
Mas isso não diminui a importância da iniciativa. Pelo contrário, mostra que o Brasil tem potencial em desenvolver soluções inovadoras. O que falta, muitas vezes, é investimento, infraestrutura e direcionamento para transformar essas pesquisas em aplicações práticas.
Hoje poderíamos está falando de uma invenção brasileira.
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