FRANZ REICHELT E O SALTO FATAL DA TORRE EIFFEL
#EngHistory
- Atualizado em: 22/01/2025
- Tempo de leitura: 5 min
FRANZ REICHELT E O SALTO FATAL DA TORRE EIFFEL
Em 1912, no alvorecer da aviação, muitos experimentos estavam sendo realizados, e um alfaiate austríaco chamado Franz Reichelt se dedicava à criação de seu próprio modelo de paraquedas.
Franz, mais conhecido como o ‘Alfaiate Voador’, acreditava estar prestes a revolucionar a segurança dos pilotos com sua invenção: um traje paraquedas. Ele mesmo descreveu seu trabalho como ‘uma solução definitiva’ para salvar vidas.
Mas o que deveria ser um marco de sucesso terminou de forma drástica, cercado por céticos e curiosos na base da Torre Eiffel. Essa é mais uma história da série #EngHistory. Continue a leitura que eu te conto sobre esse fato um tanto quanto bizarro.
Spoiler: as leis da física não costumam negociar.
Matéria: O inventor de um paraquedas se lança da Torre Eiffel e cai no solo.
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O Sonho de Franz Reichelt
Austríaco de nascimento, Franz Reichelt se mudou para a França em 1898 e, anos depois, virou cidadão francês, adotando o nome François.
Alfaiate de profissão, Franz tinha um negócio bem-sucedido na Rue Gaillon, onde atendia pessoas da alta classe parisiense. Mas, em meio à profissão, Franz tinha um hobby ou, melhor, uma obsessão pela aviação.
A paixão pela aviação levou Reichelt a idealizar um traje que pudesse salvar pilotos em caso de acidente. Inspirado por André-Jacques Garnerin, que desenvolveu o primeiro paraquedas sem armação, Reichelt queria criar algo ainda mais inovador.
Ele projetou um paraquedas que poderia ser vestido como uma roupa comum. A ideia era simples: leve, prático e capaz de abrir no momento certo para desacelerar a queda. Parece bom, né? Na prática, era outra história.
Segundo algumas fontes, uma das motivações de Reichelt era o prêmio de 10.000 francos oferecido pelo Aéro-Club de France para quem desenvolvesse um paraquedas seguro e com no máximo 25 kg.
Uma curiosidade: o Aéro-Club de France foi uma das primeiras entidades do mundo dedicadas à aviação, tendo Santos Dumont como um de seus membros fundadores.
Franz Reichelt exibe seu modelo de paraquedas.
Os Primeiros Testes
Bem, aqui temos algumas versões do que de fato teria acontecido com os primeiros testes feitos por Franz Reichelt. Vamos ver como as fontes da época retrataram isso.
De acordo com o Le Petit Journal, Reichelt obteve sucesso em seus primeiros testes. Usando manequins equipados com ‘asas’ de seda dobráveis, os dispositivos teriam tocado o solo suavemente após uma queda de cinco andares.
O problema começou quando ele tentou transformar o design original em um traje vestível. A primeira versão usava 6 metros quadrados de material e pesava uns 70 quilos, o que era totalmente inviável.
Reichelt tentou ajustar o traje para reduzir o peso e chegou a testá-lo pessoalmente, pulando de alturas de 8 a 10 metros. Resultado? Uma perna quebrada, segundo o jornal Le Matin.
Outras fontes apresentaram versões bem diferentes. O Le Petit Parisien relatava que os experimentos de Reichelt com manequins não funcionaram como o esperado, acrescentando que os resultados eram deploráveis.
O SALTO DA TORRE EIFFEL
Mesmo com os experimentos ainda inconclusivos, Franz acreditava que a melhor forma de provar seu invento era ele mesmo vestir o traje e fazer o teste de uma altura maior.
Assim, para atrair mais visibilidade para sua invenção, Reichelt decidiu realizar uma demonstração pública do seu modelo de paraquedas saltando do primeiro andar da Dama de Ferro.
Experimentos na torre eram comuns, mas conseguir permissão não era tão fácil – quem deixaria um maluco se jogar de uma das torres mais famosas do mundo? Franz sabia disso, então alegou que usaria um manequim para o teste.
No dia 4 de fevereiro de 1912, o alfaiate finalmente teve a chance de colocar em prova sua ideia. Após meses de insistência, conseguiu autorização para fazer um teste na Torre Eiffel. As autoridades acreditavam que ele usaria um manequim para o salto.
Na manhã fria daquele dia, Reichelt chega a torre acompanhado de dois amigos, a sua espera já tem cerca de 30 pessoas entre jornalistas, curiosos e profissionais da aviação – detalhe: ele mesmo havia chamado todos para testemunharem o salto.
O jornal Le Figaro descreveu o momento dessa forma:
“Às oito horas chegou François Reichelt, já vestido com seu traje de paraquedas. Jovem, alerta, alegre, era determinado, transbordando de uma confiança que surpreendeu aqueles que, alertados para o perigo de experiências semelhantes, esforçaram-se então, mas em vão, por dissuadi-lo do seu projeto temerário.“
Franz Reichelt antes de realizar seu salto.
A tensão era evidente: muitos comentavam baixinho que as chances de sucesso eram mínimas. A coisa ficou ainda mais séria quando perceberam que o próprio Franz realizaria o salto.
Aviadores como M. Hervieu tentaram dissuadi-lo. Reichelt, porém, com uma confiança inabalável, respondeu:
“Você verá como meus setenta e dois quilos e meu paraquedas refutarão seus argumentos.”
Artigos em Alta
Na plataforma, o clima de apreensão aumentava. Seus amigos imploraram para que ele usasse um manequim, mas não adiantou, ele estava convicto do seu sucesso.
Franz subiu em uma mesa para se preparar para o salto. Ajustou o traje, conferiu a direção do vento e nesse momento o silêncio tomou conta do ambiente. Após intermináveis 40 segundos de hesitação… lançou-se no vazio.
O paraquedas não funcionou e acabou se enrolando ao redor de seu corpo. Reichelt despencou como uma pedra, atingindo o solo congelado 57 metros abaixo. A morte foi instantânea.
Relatos da época descreveram o horror da cena. Segundo o Le Figaro, os olhos de Reichelt estavam abertos e dilatados, e seu corpo foi removido rapidamente do local. Testemunhas ficaram em choque e a imprensa rapidamente espalhou a notícia.
Uma curiosidade: algumas fontes indicam que Franz pode ter sofrido um ataque cardíaco antes de atingir o solo. Essa pode ter sido a causa da sua morte, segundo autopsia.
CONSEQUÊNCIAS DO SALTO
No dia seguinte ao salto, o ocorrido estava em todas as manchetes. O evento ganhou enorme repercussão, sendo uma das primeiras mortes capturadas em vídeo. Os cinemas Pathé ficaram lotados com a exibição das imagens.
A morte de Franz Reichelt abriu debates sobre a segurança em experimentos e resultou em restrições mais rígidas para testes na Torre Eiffel.
Sua tentativa, embora trágica, foi um reflexo do espírito pioneiro da época, em que inventores se arriscavam em prol da ciência e, é claro, tentavam entrar para a história. Infelizmente, não da forma que ele imaginava.
Ilustração do jornal Le Petit Parisien – 18 de Fevereiro de 1912.
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