
usina de Itaipu: Fatos e Recordes da Maior Obra de Engenharia da América Latina
#Enghistory
- Atualizado em: 29/03/2025
- Tempo de leitura: 5 min
Usina de Itaipu
Poucas construções no mundo carregam tantos superlativos quanto a Usina de Itaipu. Ela já foi a maior usina hidrelétrica do planeta, é a maior geradora de energia acumulada da história e, até hoje, segue como a maior obra de engenharia da América Latina.
É meus amigos, vocês vão perceber que tudo que se fala de Itaipu é uma escala gigantestaca!
Não é para menos, por trás dessa grande estrutura tem um enorme desafio! A usina é responsável por abastecer praticamente 86,3% da energia utilizada no Paraguai e cerca de 8,6% da energia consumida no Brasil, simultaneamente!
Portanto, se você é apaixonado por grandes projetos de engenharia como nós, continue lendo este artigo para descobrir todos os fatos e recorde por trás dessa estrutura.
superando as desavenças com um antigo inimigo
A Itaipu Binacional começa a produzir energia em 5 de maio de 1984, quando entra em operação a primeira das 20 unidades geradoras do projeto, era o início e a confirmação de um feito histórico na engenharia mundial.
Porém, essa história começa bem antes, especificamente, em 1937, quando foi apresentado o primeiro esboço de um projeto de aproveitamento das águas do Rio Paraná para a geração de energia.
Mas, para isso, seria preciso superar as desavenças com um antigo inimigo: o Paraguai.
Historicamente, as relações entre os dois países não eram das melhores — ainda marcadas pelas feridas da Guerra do Paraguai, que dizimou quase metade da população paraguaia no século XIX.
Mesmo assim, as diferenças foram deixadas de lado em nome do desenvolvimento.
Em 1966, foi assinado o Ato de Iguaçu, que previa estudos conjuntos na região.
O que era apenas um esboço foi, finalmente, retirado do papel. Desse modo, em 1973, com a assinatura do Tratado de Itaipu entre Brasil e Paraguai, o projeto começou a se tornar real.
A decisão de construir a usina foi motivada pela crescente demanda de energia elétrica nos dois países, especialmente no Brasil, que passava por uma fase de expansão industrial.
A construção de Itaipu levou cerca de 10 anos para ser concluída, superando inúmeros obstáculos e desafios. Ao longo desse tempo, foram necessários 1,2 milhão de folhas de desenhos técnicos e listas de materiais, refletindo a imensa complexidade e o detalhamento dessa obra monumental.
TRANSFORMAÇÃO DE FOZ DO IGUAÇU
No ano de 1974 o plano saiu do papel, marcando o início de uma obra que transformaria para sempre a geração de energia do Brasil, mudando, também, a vida das pessoas que viviam em Foz do Iguaçu e arredores.
No início, a população local não entendia bem o que estava por vir. A movimentação era tão intensa que teve gente dizendo que estavam procurando… alienígenas.
Mas logo a propaganda da obra se espalhou — e com ela, vieram milhares de brasileiros.
Com o início das obras, a cidade virou um polo de atração para diversos trabalhadores. Esses ficaram conhecidos como “barrageiros”, operários que vieram de todos os cantos do país pra transformar o Rio Paraná numa das maiores fontes de energia do planeta.
Para abrigar o grande número de trabalhadores, entre 1975 e 1978, mais de 9 mil casa foram construídas na região. A partir disso, a pequena cidade passou por uma explosão populacional e econômica!
Acreditem se quiser, mas na época, a cidade de Foz do Iguaçu tinha apenas duas ruas asfaltadas e cerca de 20 mil habitantes. Porém, em aproximadamente 10 anos, com a construção da usina a população da cidade passou a ser de 100 mil pessoas.
PRIMEIRO DESAFIO DE ITAIPU: DESVIO DO RIO PARANÁ
O primeiro grande desafio foi desviar temporariamente o curso do Rio Paraná para permitir a construção da barragem. Mas, como fazer isso? foi preciso escavar um enorme canal, removendo aproximadamente 50 milhões de metros cúbicos de terra e rocha – o suficiente para construir 22 pirâmides de Gizé!
Para se ter uma ideia melhor, o volume de escavações de terra e rocha foi 8,5 vezes superior ao do Eurotúnel (que liga a França e Inglaterra sob o canal da Mancha) e o volume de concreto foi 15 vezes maior.
De fato, desviar um dos maiores rios da América do Sul não era uma tarefa simples, foi preciso muita coordenação e planejamento.
Como consequência, as famílias que viviam nas proximidades tiveram que ser realocadas, e para reduzir o impacto ambiental, foram criadas zonas de reflorestamento.
Depois de muito esforço, o desvio foi concluído com sucesso em 1978, permitindo que a construção da barragem principal fosse iniciada.
UMA MULTIDÃO DE TRABALHADORES EM ITAIPU
Outro grande desafio foi gerenciar a mão-de-obra envolvida. Inclusive, estima-se que, no auge da construção, a usina contava com mais de 40 mil trabalhadores em seu canteiro de obras, tornando a logística da operação muito complexa.
Além disso, um dos aspectos mais marcantes do canteiro de obras era a diversidade de trabalhadores. No dia a dia, era possível identificar pessoas de diferentes regiões do Brasil e do Paraguai, cada uma trazendo consigo não apenas suas habilidades, mas o sonho de uma vida melhor.
Devido à longa duração da construção (cerca de 10 anos), a rotatividade de mão-de-obra era alta. Durante esse período, aproximadamente 100 mil trabalhadores passaram pelos canteiros de obras, prestando serviços para o consórcio Unicon, responsável pela execução do projeto.
ACIDENTES DE TRABALHO NA USINA DE ITAIPU
Temos que destacar que a Usina de Itaipu também é lembrada por discussões importantes a respeito da segurança do trabalho no canteiro de obras.
Na época, o Brasil ainda não contava com normas de segurança do trabalho tão consolidadas quanto hoje. O desafio de gerir uma obra dessa magnitude trouxe consigo, infelizmente, diversos acidentes — inclusive muitos com desfechos fatais.
O número exato varia conforme a fonte, mas registros apontam que ocorreram cerca de 43 mil acidentes durante a construção da Usina de Itaipu, dos quais mais de 100 resultaram em mortes de trabalhadores.
Um estudo da Universidade Federal de Minas Gerais analisou esse contexto e apontou que muitos operários não estavam preparados para atuar em uma obra dessa escala, além de destacar que a pressão por produtividade contribuiu para a ocorrência de acidentes.
Vale lembrar também que os chamados Atos Normativos de Itaipu, criados em 1975, serviram como referência para a elaboração das Normas Regulamentadoras (NRs), instituídas pelo Ministério do Trabalho em 1978.
Além disso, a Unicon chegou a promover um concurso onde seriam premiadas equipes sem registros de acidentes. Fato que diminui um pouco o número de acidentes.
O que aconteceu em Itaipu reflete um momento de transição, em que a segurança do trabalho começava a entrar em pauta, mas ainda enfrentava muitos desafios. Isso, no entanto, não isenta os responsáveis técnicos pela obra de sua parcela de responsabilidade pelos acidentes ocorridos.
Quanto de concreto foi utilizado em itaipu?
Ao todo, foram despejados aproximadamente 12,3 milhões de metros cúbicos de concreto – um volume suficiente para construir 210 estádios de futebol do tamanho do Maracanã!
O uso massivo de concreto foi algo nunca visto no Brasil até aquele momento!
Em 1978, a Usina bateu o recorde sul-americano de lançamento de concreto em único dia. Foram lançados 7.207 mil m³ de concreto, o equivalente a um prédio de dez andares a cada hora!
Certamente, ao olhar para Itaipu, a primeira coisa que pensamos é como um volume tão grande de concreto foi lançado? De fato, isso chama atenção e chega a ser assustadora a quantidade de concreto empregado.
Isso foi possível devido a uma mega operação no canteiro de obras. Dois moinhos de clínquer, foram instalados diante da previsão de que as empresas brasileiras e paraguaias não teriam capacidade produtiva para atender a demanda
Em média, se utiliza 500 mil toneladas de cimento por ano! São cerca de 10 milhões de sacos de cimento de 50Kg. No fim, as empresas deram conta e nem foi preciso utilizar os moinhos.
Para o transporte e lançamento de concreto foram instaladas duas monovias com capacidade de 900 metros cúbicos/hora, sete cabos aéreos e 13 guindastes de torre.
TÉCNICA PARA EVITAR FISSURAS
Porém, contudo, todavia… Nem tudo são flores! Um volume tão grande de concreto não poderia ser lançado de qualquer maneira, sendo necessário implementar uma técnica, até então, nova para a época.
Os engenheiros colocaram gelo dentro do concreto! Pois é, isso mesmo que você leu. Durante a concretagem, os engenheiros solicitaram que o concreto fosse resfriado por meio da adição de gelo à mistura
Agora, a explicação requer que você se recorde das aulas de materiais de construção civil. Mas, não se preocupe, caso você não seja estudante de engenharia ou formado na área, vou te explicar por que eles adicionaram gelo ao concreto.
Basicamente, o processo de cura do concreto gera calor, e em obras de grande escala como Itaipu, esse calor pode se tornar excessivo, causando fissuras na estrutura.
Diante disso, para evitar fissuras, os engenheiros adicionaram gelo à mistura, o que ajudou a manter a temperatura do concreto sob controle. Devido ao grande volume de concreto utilizado, obviamente, também foi necessário produzir uma enorme quantidade de gelo.
Nesse sentido, fábricas de gelo foram instaladas diretamente no canteiro de obras para garantir o fornecimento contínuo durante a etapa da concretagem.
SE É CONCRETO ARMADO, TEM AÇO!
Enquanto o concreto servia para dar forma à imponente barragem de Itaipu, o aço era o esqueleto que ajudava a sustentar toda essa grandiosidade. Para se ter uma ideia da dimensão, a quantidade de ferro e aço utilizada daria para construir 380 Torres Eiffel.
Além disso, todo material foi empregado em uma estrutura de 196 metros de altura – equivalente a um prédio de 65 andares – e 7,2 km de extensão. Durante 35 anos, foi a estrutura em concreto armado mais alta do Brasil.
O transporte de materiais para a usina mobilizou 20.113 caminhões e 6.648 vagões ferroviários. Uma de suas turbinas, vinda de São Paulo, demorou cerca de 3 meses para chegar no canteiro.
itaipu já foi a maior hidrelétrica do mundo
Quando Itaipu foi inaugurada, bateu mais um recorde: a maior hidrelétrica do mundo. Com uma capacidade instalada inicial de 12.600 MW, Itaipu revolucionou a produção de energia elétrica, garantindo uma fonte de energia para milhões de brasileiros e paraguaios.
Durante 24 anos, Itaipu liderou o ranking global como a maior usina hidrelétrica do mundo. No entanto, em 2006 foi superada, quando os chineses (sempre eles), inauguraram a Barragem das Três Gargantas.
Ainda assim, mesmo com a Barragem das Três Gargantas tendo uma capacidade de 22.500 MW, Itaipu conseguiu, por vários anos, produzir mais energia, demonstrando a incrível eficiência de seu sistema. Atualmente, sua capacidade instalada é de 14.000 MW.
Em 2016, Itaipu gerou 103,1 milhões de MWh, estabelecendo um recorde mundial de produção de energia, superando a produção anual das Três Gargantas, que apesar de ter uma capacidade maior, é mais afetada por variações sazonais e climáticas.
Contudo, no ano de 2020, na ´´briga´´ pelo recorde anual de geração de energia, a Barragem Três Gargantas saiu na frente novamente. A usina chinesa estabeleceu um novo recorde ao gerar 111,8 bilhões de kWh.
Mas tem um recorde que ainda é nosso! Em 2024, a Itaipu entrou para o Guinness Book como a maior produtora de energia elétrica acumulada do mundo (3 bilhões de MWh), o suficiente para abastecer o mundo por 43 dias.
As consequências da construção de itaipu
A construção da Usina de Itaipu gerou intensos debates e polêmicas, especialmente relacionadas às consequências ambientais e sociais.
Uma das maiores críticas ao projeto estava relacionada às desapropriações de milhares de famílias, ao deslocamento de comunidades indígenas, como os Avá-Guarani, e à perda de áreas naturais ricas em biodiversidade.
Isso porque a usina exigiu a formação de um reservatório gigantesco, com cerca de 1.350 km², que alagou áreas urbanas, rurais e ambientais — mudando para sempre a paisagem da região.
Como você já sabe, o projeto foi adiante. E agora, é importante entender o que aconteceu com todas essas questões citadas anteriormente.
Mais de 40 mil pessoas foram desapropriadas ou realocadas para outras regiões. Indenizações foram pagas, mas nem todos os impactos puderam ser compensados apenas com cifras.
Entre os impactos mais sensíveis está o deslocamento de comunidades indígenas que viviam na região onde hoje se encontra o reservatório.
Esses povos foram removidos de seus territórios tradicionais, que não eram apenas locais de moradia, mas também carregavam profundo valor espiritual, cultural e histórico.
Além disso, a formação do lago de Itaipu provocou o desaparecimento de um dos maiores patrimônios naturais do Brasil: o Salto de Sete Quedas.
Simplesmente, foram as maiores cachoeiras do mundo em volume de água com 13,3 mil m³/segundo!
Consideradas mais volumosas que as Cataratas do Iguaçu, as Sete Quedas eram um espetáculo da natureza e foram completamente submersas — um dos momentos mais marcantes (e dolorosos) de todo o processo.
Para tentar minimizar os impactos da criação do reservatório, foi realizada uma operação chamada Myamba Kuera em que biólogos e voluntários desceram o Rio Paraná, resgatando o máximo de animais possível.
Ao todo, mais de 35 mil animais foram salvos!
Tempos depois, surgiu o Refúgio Biológico Bela Vista, uma área destinada a preservar e recuperar parte da fauna e flora afetadas pela formação do reservatório.
Também foram plantadas 24 milhões de mudas de árvores nativas ao longo da faixa de proteção do reservatório de Itaipu, marcando o maior reflorestamento desse tipo já realizado no mundo.
Vale destacar que, mais do que compensações, essas medidas são importantes mesmo sem recuperar tudo o que foi perdido, pois reforçam que grandes obras têm responsabilidades sociais e ecológicas.
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